Começar um blogue e, poucas semanas depois, viajar durante três semanas não é a melhor das ideias. É que além da diferença horária, as actividades planeadas não deixaram espaço para estar em frente ao computador a escrever posts com a regularidade que quero. Mas viagem terminada e regresso à realidade, brindemos ao novo ano!
Foto: Paniti Marta, Free Images
Roupa branca, roupa nova, lingerie azul a estrear, 12 passas contadas para 12 pedidos ao universo, cadeira para nos colocarmos em cima ao som das 12 badaladas do relógio, tachos e panelas num concerto desarmonioso, saltar ao pé cochinho com o pé direito, beijar alguém quando o ponteiro das horas e dos minutos se beijam na casa 12. Vale tudo quando se trata de superstições para receber o novo ano da melhor maneira e tentar evitar ao máximo repetir as desgraças do ano anterior. Fazem-se listas de resoluções de ano novo.
"Fazer exercício físico" - sim, esta também está na minha lista;
"Comer de forma mais saudável" - vá, também pode ser;
"Gastar menos" - ahahahahah, talvez se deixar de comer;
"Ir mais vezes ao cinema, ao teatro, aos museus" - e deixar de comer para pagar as entradas nos ditos cujos;
"Estar mais vezes com a família e os amigos" - ui, o que se vai gastar em combustível para ver esta gente toda, é melhor ficar quietinha em casa;
"Não descurar as tarefas domésticas" - não comento...;
"Viajar mais" - acho que esgotei o plafond deste pedido em 2014, mas não há-de ser nada;
"Ir para fora cá dentro" - ver comentário anterior;
"Fazer voluntariado" - hm... não é isso que fazem os trabalhadores que fazem horas extra sem receber mais ao fim do mês por isso?.
"Comprar menos roupa e doar o que não usamos a quem precisa" - mas aquela camisola que estava na montra da loja era tão gira e só custava 30€, e posso já não usar aquelas calças há cinco anos, quando passei de um 32 para um 36, mas um dia ainda vou caber nelas (quando começar a fazer exercício físico e a comer melhor, resoluções que até fazem parte da lista deste ano), por isso é melhor deixá-las sossegadinhas no armário;
"Tirar da gaveta aquele projecto antigo, seguir o meu sonho e ser dono do meu tempo e da minha vida" - epá, mas isso dá muito trabalho e custa dinheiro e os bancos fecharam a torneira. E depois quando chegar o Verão e eu quiser ir de férias, como é? Quem é que fica a tomar conta do barco? Além disso, só daqui a cinco anos é que a coisa dá lucro, até lá vivo do ar? É melhor deixar-me estar neste trabalhinho que me garante uns míseros euros ao final do mês, me deixa os cabelos em pé, tira-me saúde e anos de vida, mas ao menos é seguro... até ao próximo despedimento colectivo ou até à deslocalização da empresa para a Índia, a China ou a Roménia porque o meu salário de 500€ é coisa de rico e lá só é preciso pagar 1/5 disso. Isto se a empresa não declarar insolvência depois de meses de salários em atraso e os meus 500€ de rico ficarem nos bolsos do patrão, indivíduo mais pobre do que eu que só ganha 15 mil euros por mês. Projecto meu? Sonho? Isso é para as crianças.
Confessem lá, algumas destas resoluções estão na vossa lista para 2015, não estão? E quantas vão colocar em prática? Basta fazerem o balanço de 2014 para perceberem quantas resoluções de ano novo repetimos ad aeternum, sinal de que a vida - ou a preguiça, ou a falta de vontade ou o que lhe quiserem chamar - se mete pelo meio e acabamos por não as cumprir. E se em vez de resoluções de ano novo que nunca vamos cumprir, estabelecessemos objectivos reais de coisas que queremos atingir e lutássemos por elas?
E se decidir que em 2015 vai baixar o seu colesterol de 280 para 180. Como? Comendo de forma mais saudável e fazendo exercício físico. E se decidir que quer ir de férias à Tailândia em Outubro? Como? Comendo menos vezes fora, evitando as idas ao cinema, ao teatro, aos festivais de Verão e poupando esse dinheiro. Se não conseguir poupar o suficiente para ir em Outubro, mude a viagem para Março de 2016 e continue a poupar. E se combinar com a família e os amigos encontros mensais, almoços ou jantares em que cada um leva uma coisa e todos se reunem, à vez, em casa de alguém?
E se este ano decidir participar numa actividade pontual de voluntariado - Lisboa vai ser a Capital Europeia do Voluntariado em 2015 - ou simplesmente, se oferecer para ajudar de vez em quando um/a vizinho/a idoso que vive sozinho ou alguém da sua família ou círculo de amigos que está a atravessar uma fase menos boa? Pode começar pela doação de coisas que tem em casa e que já não usa. Eu sei que temos o gene de caçador-recolector no nosso sangue, mas viver uma vida frugal tira-nos de cima o peso que colocamos nas coisas e acabamos por perceber que não morremos se tivermos menos do que aquilo que temos actualmente. Além disso, menos coisas significa menos entulho em casa, menos pó para limpar, menos peças para lavar, mais espaço para a energia circular, etc.
E, mais importante de tudo, arrisque em si. Se olha para a sua vida e não se sente realizado, seja a nível pessoal ou profissional, tenha a coragem de mudar. A nossa felicidade depende única e exclusivamente de nós, não é algo que possamos imputar ao outro. Ninguém tem a obrigação de nos fazer felizes. Se não está no seu emprego de sonho, saiba qual é e procure consegui-lo. Pode criá-lo? Não? Tem a certeza? Pense bem, olhe que se calhar pode criá-lo. Como disse o Steve Jobs um dia, "encontre algo que ame fazer, que o apaixone, e não terá de trabalhar um dia na sua vida". É claro que vai ter de trabalhar, mas não vai sentir o trabalho como um peso, como uma obrigação chata que temos de cumprir para sobrevivermos todos os meses porque é o que nos dá o pilim ao fim do mês.
Quer acredite em Deus quer acredite na força do Universo ou em outra coisa qualquer, todas as "correntes" são unânimes: se quer mudar, tem de dar o primeiro passo, o resto acaba por se conjugar a seu favor. Não vai ser tudo fácil, não vão ser favas contadas. Aliás, nós só damos valor ao que é difícil de obter. Mas se der o primeiro passo e não se deixar abater pelos obstáculos - como dizia Fernando Pessoa: "Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo" - no final vai valer tudo a pena.
Para terminar este post que já vai longo, deixo-vos com uma música que personifica isto mesmo, o novo ano, a necessidade de mudança e a nossa capacidade de ser uma borboleta no universo. Porque, como canta a Paula Teixeira, em Muda, "se mudares tudo muda/não mudes todos muda um/tu/e tudo muda".
Bom 2015!
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