segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A arte de partilhar o espaço quando se vive sozinho

Vivo sozinha há vários anos e, nos últimos tempos, tenho percebido que quanto mais tempo moramos sozinhos mais difícil se torna habituarmo-nos a partilhar o nosso espaço com outra pessoa. Excepção feita aos animais de estimação, que são os únicos que acabam por ter autorização para mandar mais do que nós em nossa casa.

 
 
Isto de viver sozinho tem muito que se lhe diga. À medida que os anos vão passando, vamos-nos tornando cada vez mais possessivos com as nossas coisas e com o nosso espaço, o que deixa muito pouco espaço para outros na nossa vida, seja durante o fim-de-semana, uma semana, um mês ou o resto da vida - ainda que a ideia de resto da vida seja algo demasiado longo no tempo, se calhar o melhor é ou enquanto a relação durar.
 
Só parecemos não ter dificuldade em partilhar o nosso espaço com um animal de estimação, que ainda vai sendo o único a quem damos liberdade para se esparramar no sofá ou ocupar metade da cama sem que refilemos muito. Só não tem as chaves de casa porque não consegue abrir a porta, senão até isso teria.
 
A minha cadela era o único ser vivo que tinha autorização para ocupar todo e qualquer espaço da casa, sem me ouvir reclamar... muito, vá! É que ela era pesada e às vezes dava comigo a um cantinho da cama com ela a dormir atravessada ou tão colada a mim que não me deixava mexer, e a minha cama é king size!
 
Mas ela não disputava comigo o comando da televisão - sou muito possessiva com o comando, ai de quem lhe tocar - e o espaço que ocupava no sofá não era tão significativo que me deixasse incomodada com a sua presença. Era mais uma questão de fazer peso em cima das pernas do que de falta de espaço para estender as pernas, até porque, convenhamos, o meu sofá só tem espaço para mim - é o que dá comprar algo do meu tamanho.
 
Percebi há pouco tempo que não tenho espaço na minha casa para outra pessoa, esteja ela de passagem ou venha de forma definitiva. Esvaziar uma gaveta para acomodar as coisas de outra pessoa não é tarefa fácil - o que me faz pensar que tenho mesmo de dar uma volta ao meu roupeiro - mas o que me custa mesmo é a partilha do mesmo espaço. São os pequenos ajustes que temos de fazer na nossa rotina e nos nossos hábitos para que a outra pessoa se sinta bem-vinda.
 
Seja a amiga que vem passar uma semana de férias ou o namorado que fica aos fins-de-semana, quando vivemos sozinhos à demasiado tempo parece que o nosso organismo - ou ego - não está preparado para receber um "corpo estranho" que surge do nada a cada instante e se apodera do nosso espaço. Lembro-me de uma amiga dizer que meses depois de ter juntado os trapinhos ainda se assustava de cada vez que entrava numa divisão da casa e dava de caras com o marido. Simplesmente não estava à espera de o encontrar, porque já não estava habituada a viver com outras pessoas.  
 
Eu sinto o mesmo. Irrita-me profundamente de cada vez que mudam o canal de tv, mesmo que eu não estivesse a prestar assim tanta atenção ao que está a dar. Ou ter de arranjar espaço no sofá para outra pessoa. O que me leva a pensar que damos demasiada importância às coisas que temos e não damos importância suficiente às pessoas que temos [na nossa vida] . Acho que tem tudo a ver com controlo. Podemos controlar as coisas que temos, o que possuímos, mas não podemos controlar as pessoas que estão na nossa vida, e a imprevisibilidade é algo com que não lidamos da melhor forma porque retira-nos da nossa zona de conforto.
 
Talvez seja altura de começarmos a olhar melhor para as nossas atitudes e pensarmos de que forma é que elas afectam, directa ou indirectamente, as pessoas com as quais nos relacionamos. Porque há relações que merecem ser cuidadas e não ser estragadas porque a almofada não está na posição exacta ou o prato ficou em cima da mesa em vez de dentro da máquina da loiça - engraçado, esta noite sonhei com montanhas de máquinas de loiça muito estranhas.
 
Melhores relações, dentro e fora de casa, ajudam a dias menos stressantes, logo, ao menor recurso a fármacos, logo a maior poupança em saúde. O corpo e a bolsa agradecem.
 
Também tem dificuldades em partilhar o seu espaço com as pessoas de quem gosta? Partilhe nos comentários a sua experiência e as técnicas que usa para contornar a situação.

PS: Estar num país com menos cinco horas do que o nosso e com tanto para ver e fazer torna muito complicado fazer posts para o blogue, pelo que vou ficar sem escrever até voltar para Portugal. Até já.
 

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