Há alguns anos que ouvimos dizer que o mercado regulado da energia vai terminar e que seremos todos obrigados a mudar para o mercado liberalizado. Pelo meio, fomos incentivados a produzir a nossa própria energia e a vender o excedente à rede, enquanto mudamos para um mercado que promete benesses mas ainda não provou o seu valor.
Confesso, ainda estou no mercado regulado na electricidade, só mudei o gás aquando do primeiro leilão de energia da Deco e ainda nem fui ver qual a real poupança que consegui ao fim deste tempo. Devíamos todos ter mudado para o mercado liberalizado até ao dia 31 de Dezembro de 2014 mas o Governo alargou o prazo até ao final deste ano. E eu continuo a não me convencer a mudar.
Para começar, sempre que vejo uma campanha promocional, tenho o cuidado de olhar para "as letras pequeninas". É que a maioria dos descontos é feita sobre o preço fixo da potência contratada e não sobre o consumo efectuado. Ou seja, todos os meses vou poupar o mesmo, porque o preço fixo é, como diz o nome, fixo, e o que varia e faz aumentar o valor da nossa factura são os custos variáveis, que dizem respeito aos consumos que fazemos. Mas surgiram agora umas campanhas que parecem interessantes, e que era sobre o que vos vinha falar hoje, mas a pena fugiu-me para outro lado e deixarei a análise a essas ofertas para outro post.
Depois, porque ainda ninguém me conseguiu explicar porque raio é que, sendo nós um dos países mais soalheiros do mundo, não podemos ser completamente independentes no que diz respeito à produção energética em nossas casas. Recebemos incentivos fiscais para colocarmos painéis solares e painéis fotovoltaicos que nos permitem produzir energia e vender o excedente à rede, mas não nos permitem ser completamente independentes desta. Ora, se eu produzo mais energia do que aquela que consumo - em teoria - e vendo o excedente à rede, porque carga d'água é que não sou independente da rede? Porque é que não posso tirar o contador da luz lá de casa e pronto?
Este tipo de incongruência sempre me fez muita confusão. Dizem que é porque as baterias não são grandes o suficiente para armazenarem a quantidade necessária de energia para suprir as nossas necessidades ao longo de 24 horas, e que quando atingem o seu limite máximo de carregamento, descarregam o excedente para a rede. Isso é fácil de resolver: façam-nas maiores! Ainda por cima tendo em conta que a maioria dos portugueses que trabalha o faz fora de casa, o seu consumo energético ao final do dia e de manhã é bem mais reduzido do que se estivesse o dia todo em casa.
Só que fazer baterias maiores e permitir que os consumidores sejam totalmente independentes no que diz respeito à energia ia estragar o negócio a muitos, a começar pela EDP. De acordo com uma análise do Diário Económico de Novembro do ano passado, a EDP vale 11,8 mil milhões de euros. É muito milhão. Enquanto a EDP Renováveis, a empresa criada para gerir o "mercado" das energias renováveis em Portugal vale 4,7 mil milhões de euros, e tem a seu cargo, principalmente, parques eólicos nacionais.
E quanto vale o mercado do solar fotovoltaico? Em 2007 estimava-se que pudesse valer até 1000 milhões de euros por ano, enquanto o mercado do solar térmico - o que permite fazer o aquecimento das águas sanitárias e que era condição obrigatória para quem queria instalar painéis fotovoltaicos - dizem valer 250 milhões de euros. São muitos milhares de milhões de euros todos juntos que se perderiam se os consumidores pudessem simplesmente armazenar a sua própria energia solar e utilizá-la para fazer face às suas necessidades, sem terem de recorrer à rede convencionada.
Confesso que de cada vez que visito o monte dos meus avós - que não tem luz e agora até já tem os postes e os cabos a passarem mesmo à porta - a vontade que tenho é de o equipar com painéis fotovoltaicos e mandar fazer baterias gigantes - no fundo, o elemento mais caro de todo o investimento e que tem uma vida útil prevista de cerca de 25 anos - para fazer o teste. Mas temo que assim que quisesse instalar os ditos equipamentos viria algum comercial de uma qualquer empresa de energias tentar vender-me o seu peixe, que é como quem diz, a sua energia com a falácia de que compraria a minha ao melhor preço, quando comparado com a concorrência.
Talvez um dia isto seja possível, quando a ditadura das grandes empresas e dos grandes lucros for menos importante do que as pessoas. Para já, temos de nos contentar em ter um dos países com mais sol no mundo e onde este é menos aproveitado pelos seus habitantes, excepto nos dias estivais mas isso é só porque metade do país ou está desempregado, ou reformado, ou estuda, ou vivi de rendimentos, ou, simplesmente, não faz nada.
Faz microprodução de energia? Partilhe a sua experiência.
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