Todos temos os nossos vícios e coisas das quais não abdicamos. Há quem não consiga deixar de fumar, quem se pele por um bom vinho, quem não resista a comer fora todas as semanas, quem faça questão de ver todas as estreias de cinema ou quem seja viciado em adrenalina e pratique todos os desportos radicais que consegue. Eu, adoro viajar.
Em Economia aprendemos que todo o benefício tem um custo: se numa dada noite temos um convite para ir ao cinema e outro para ir ao teatro, a escolha que fazemos é o nosso benefício e o que deixamos de fazer é o nosso custo. A verdade é que, além de não podermos estar em todo o lado, infelizmente também não temos - ou a maioria de nós - dinheiro para fazer tudo o que gostaríamos.
Há alguns anos que as viagens se tornaram num vício. Adoro viajar, gosto bastante de andar de avião - embora odeia secas de aeroporto - e tento fazer pelo menos uma grande viagem por ano, idealmente duas: em Maio e em Outubro. Este ano fiz três viagens "grandes" e algumas mais pequenas. numas passei apenas alguns dias fora, noutras uma semana ou duas, e desta vez estive três semanas fora. E, acreditem, estar fora duas semanas nada tem a ver com estar fora três semanas, e vou explicar-vos porquê.
A minha viagem aos EUA teve dois objectivos: trabalho de campo e passeio. Infelizmente, a falta de euros não me permitiu visitar todas as instituições que gostaria de ter visitado, porque aquilo pode ser tudo o mesmo país, mas tem o tamanho de meio continente e para ir de uma ponta à outra a malta leva assim um bocadinho de tempo e os voos não são tão baratos quantos isso. Assim, visitei as que estavam mais próximas e acabei por ficar com mais dias livres para passear do que o planeado.
Mas quando já se viram todas as grandes atracções de uma cidade, que por acaso fica a duas horas de comboio do sítio onde estamos, o que fazer? É aqui que se sente a diferença entre viajar durante uma semana, duas ou três. Aqui e ao fim do dia, quando só nos apetece chegar a casa e vegetar um bocadinho no sofá e não podemos. Cada viagem que fazemos é uma aprendizagem, sobre nós e sobre os outros, e nesta aprendi algumas coisas:
1- Quando viajamos durante um longo período de tempo, convém ser para um sítio que ainda não conhecemos, com imensa coisa para ver e que nos ocupe todo o tempo que lá estivermos;
2- É incontornável ter uma avultada quantia em dinheiro para dispender durante esse período, que nos permita entrar nos locais que queremos visitar e estender o nosso raio de acção a mais zonas;
3- Um cartão de crédito com um plafond generoso é óptimo para cumprir o ponto número dois, mas provavelmente vamos sentir-nos culpados de cada vez que o usamos e vamos andar a pensar "nem quero ver a conta quando chegar a casa, vou andar meses a pagar isto, aiaiaiaiai". Isto retira metade da piada ao que fazemos;
4- Ficar alojados em casa de amigos é uma excelente forma de economizar durante uma viagem, mas cuidado para não atrapalhar a vida da pessoa em questão, é que nós podemos estar de férias mas o amigo/a em questão não, e um "estranho" em casa altera-nos sempre a rotina. Lembram-se de ter falado nas dificuldades que temos em partilharmos o nosso próprio espaço neste post? Com os nossos amigos acontece o mesmo, não se esqueçam;
5- É bom viajar e conhecer o mundo, mas voltar a casa também é uma sensação óptima. quando viajamos durante períodos mais longos. Para quem passa grandes temporadas fora ou está constantemente a viajar, acredito que possa surgir um sentimento de não-pertença que acabe por se estender à nossa própria casa. É como diz a canção: "Porque eu só estou bem, aonde não estou/Porque eu só quero ir, a onde não vou";
6- Onde quer que estejamos, o importante é sentirmo-nos bem na nossa pele. Se isso acontecer, tudo o resto é passageiro, mas se não conseguirmos estar connosco, podemos viajar até aos confins do mundo durante um dia, uma semana, um mês ou um ano, que nunca conseguiremos aproveitar o tempo lá passado, não veremos a beleza das coisas. Queremos estar mas queremos partir, ao mesmo tempo porque, no fundo, não é o local que não nos faz sentir bem, somos nós próprios e de nós próprios não existe fuga possível.
O ano 2015 ainda agora começou. Temos 364 oportunidades de viajar, conhecer outros países, outras culturas mas, acima de tudo, de nos conhecermos a nós mesmos. Esta é a mais importante viagem da nossa vida, não deixe de a fazer quantas vezes forem necessárias, afinal, estamos sempre a aprender até morrer.
Existem vários livros sobre a importância que uma viagem solitária tem na vida de uma pessoa, como nos faz conhecer a nossa verdadeira natureza, os nossos limites e nos faz crescer. Deixo apenas duas sugestões, ambas transformadas em filme: Livre, de Cheryl Strayed, cuja adaptação para o cinema conta com Resse Whiterspoon no principal papel e tem estreia prevista em Portugal a 26 de Fevereiro; e Comer, Orar, Amar, de Elizabeth Gilbert, cujo filme tem Julia Roberts como protagonista e estreiou em 2010.
Costuma viajar sozinho e pensar na vida quando o faz ou é daquelas pessoas que não suporta estar sozinha e constantemente ocupada? Partilhe a sua experiência.
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