quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Deus tem sentido de humor

Fim do dia. Nos transportes públicos, só penso em chegar a casa e poder deitar-me no meu sofá - ai as saudades que tenho do meu sofá - e ver uma das minhas séries favoritas, antes de pensar sequer em fazer jantar. Mas nem sempre as coisas correm como esperávamos ou desejávamos.

 
 
Deus tem mesmo sentido de humor. O dia começou com uma notícia que me agradou particularmente, ainda que não me afecte directamente. Foi aquele doce gostinho de vingança que chega de forma inesperada e que nos mostra que às vezes não temos de fazer nada porque existem forças maiores do que nós - chame-lhe karma, destino, Deus, o que quiser - que se encarregam de colocar os pontos nos ii. Ou então então foi só mesmo uma coincidência do caraças.
 
Seja como for, o dia começou com uma boa notícia mas acabou com o carro trancado por outro, no parque de estacionamento. Realmente, Deus tem sentido de humor. Quem me manda a mim ficar contente com uma vitoriazinha de nada, não é? Toma lá que é para aprenderes a não ser esperta. Afinal as nuvens negras ainda não se dissiparam.
 
A primeira reacção foi automática: chegar, ver o carro bloqueado, ligar para a polícia, solicitar o reboque. Gostei da pergunta do agente: "E qual é que está mal estacionado, o seu ou o outro?". Sim, porque há quem chame a polícia para rebocar carros bem estacionados porque estão a atrapalhar o seu, que está mal estacionado, acabando multados. Mas não vale a pena debruçarmo-nos sobre a inteligência deste acto.
 
"É o outro carro que está mal estacionado, senhor guarda", respondi. "Está bem. Mas olhe que vai ter de esperar um bocadinho porque não temos nenhum reboque aqui agora", diz-me o senhor. "Mas um bocadinho é o quê? Só para eu ter uma noção", questiono. "Ah, ele está numa abertura de portas, não sei dizer", afirma. O que raio faz um reboque numa abertura de portas porque alguém deixou a chave vá-se lá saber onde é que me espanta. Mas adiante. "Então e o reboque já lá está há muito tempo?", insisto. "Há, sim, já há um bom bocado", diz, ao que respondo: "Já não deve demorar muito então." "Pois, é capaz de não. Olhe, quando os meus colegas chegarem aí, faça-lhes sinal", acrescenta. "Ok, obrigada. Boa noite".
 
De seguida, ligo para a mãe, para saber se eventualmente ela terá jantar que dê para mim, já que cozinhar quando chegasse a casa estava fora de questão, uma vez que nem sequer sabia a que horas chegaria. E eis que tenho um momento "iluminado" e digo: "Olha lá, o pai também podia vir-me buscar e eu ligava para a polícia a cancelar o reboque. A pessoa não se apercebeu de certeza, como quando aconteceu comigo, e ter de chegar e ir buscar o carro à polícia, pagar multas e reboque, a vida está difícil para todos". Ela concorda e passa o recado ao senhor meu pai, que acede, contrariado.
 
A reacção do agente quando liguei a cancelar o reboque foi hilariante. Muito preocupado que eu estava a dar cobertura a um prevaricador, e eu expliquei que deixaria um papel no pára-brisas do carro do veículo a alertar para a situação. Sendo assim, o senhor lá se conformou, muito espantado, e desejou-me as boas noites. Se o condutor do carro viu ou não o meu recado, não sei, nunca saberei, mas lá ficou, colado ao vidro, à mercê da geada da noite.
 
Duas horas e meia depois, quando regresso para ir buscar o carro, na esperança de já estar desbloqueado, lá continuava o outro veículo a cortar-me a saída. Salvaram-me os veículos de um dos lados, que já tinham saído, o que me permitiu manobrar o carro e sair dali.
 
Não fiquei mais rica, mas poupei a alguém uns bons euros. Não ocupei as forças de segurança com um caso que podia ser - e foi - resolvido de outra forma, afastando-os, eventualmente, de casos verdadeiramente importantes. Não fiquei com a noite estragada, mas também não estraguei a noite a ninguém. Foi um saldo positivo. Às vezes, a primeira reacção nem sempre é a melhor e quando vemos outros passarem por algo que nós já passámos, deveríamos ser mais compreensivos. Era bom que todos os problemas pudessem ser resolvidos assim tão facilmente.
 
Já lhe aconteceu poupar alguém de uma chatice pela qual já passou? Já perdoou alguém que agiu erradamente em relação a si? Conte-nos como foi.
 

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