Dizem que a vida é feita de escolhas e, hoje, tive de fazer uma das mais difíceis da última semana: ir ao concerto dos One Republic na sexta ou a um congresso fora da capital que começa nesse dia.
Ok, fazer uma escolha difícil por semana não é nada, pensarão vocês, mas há escolhas que custam. Esta escolha não foi fácil, mas foi a única possível. Apesar de há meses esperar pelo concerto e de precisar desesperadamente de libertar energias através da dança - uma das coisas que mais gosto de fazer e que mais me liberta e energiza -, a verdade é que, nos tempos que correm, não me posso dar ao luxo de recusar trabalho, e há pessoas que merecem o esforço.
As pessoas que sempre foram correctas comigo e sempre me trataram com respeito, no âmbito profissional, sempre puderam e podem contar comigo, mesmo que isso signifique abdicar de algo que me ia fazer muito bem à alma. Há sacrifícios que valem a pena e nós colhemos o que semeamos. Tendo em conta que se aproxima uma grande viagem, este é um pequeno soluço no percurso.
Agora, tenho um bilhete para os One Republic que não vou usar. O que vale é que comprei o bilhete com seguro de bilheteira, o que não é hábito fazer, confesso, mas sendo profissional liberal temos de estar sempre preparados para estes soluços de vez em quando.
É engraçado como, ultimamente, as coisas saem todas ao contrário ou completamente diferentes daquilo que penso ou desejo. Isto serve para nos mostrar que tudo muda num instante e que temos de deixar de tomar as coisas como garantidas ou temos de deixar de adiar o que queremos fazer, porque nunca sabemos o que vai acontecer a seguir.
Este é um pensamento que tenho sempre que alguém que conhece é atingido por uma fatalidade, em especial quando se trata da morte inesperada de um pai ou de uma mãe. Algumas pessoas adiam idas ao médico porque o trabalho "não sobrevive" sem elas, afirmam, outras ignoram os sinais de aviso porque "acontece sempre aos outros", outras são simplesmente vítimas do destino, mas todas têm em comum o facto de o amanhã ter deixado de existir.
Há 15 anos, o meu pai teve um enfarte do miocárdio. Com o susto deixou de fumar, e nunca mais voltou e passou a ser mais regrado com a comida, mas o trabalho stressante manteve-se, as longas horas, e ao fim de alguns anos sem "sintomas" os abusos alimentares começaram a ganhar terreno. E nós que temos comida tão boa, enchidos e queijinhos fabulosos aos quais é impossível resistir.
Dez anos mais tarde, teve uma série de pequenas ameaças e uma das médicas que o viu na altura, uma pneumologista, marcou-lhe consulta para daí a seis meses e, quando ele lá voltou, seis meses depois, confessou que não esperava vê-lo, achava que ele já teria morrido - digam lá que isto não é uma coisa boa de se dizer a um paciente?
A verdade é que o meu pai conseguiu recuperar, foi operado e cada dia é uma conquista, mas sabemos sempre que é a prazo. O problema é que vivemos a nossa vida como se ela não tivesse prazo de validade, vamos adiando projectos, fazendo planos para mais tarde, elaboramos "bucket lists" que prometemos cumprir um dia e nunca são colocadas em prática.
Eu queria muito ir ao concerto dos One Republic e não vou poder. Fiz uma escolha consciente, e consciente também de que a vida tem de ser vivida em pleno e que não podemos apenas ir deixando passar os dias, porque no derradeiro dia será tarde demais para fazer tudo aquilo que sempre adiámos para amanhã.
Mas deixo aqui um vídeo de uma música deles que adoro, ao menos isto posso ver em qualquer lugar.
Já teve de abdicar de algo que queria muito em prol do trabalho? Conte-nos o quê nos comentários e o que aconteceu depois da escolha feita.
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