quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O problema de Portugal é ter poucos ricos

Ontem, a caminho de casa, super cansada depois de um dia inteiro numa conferência - ultimamente a minha vida é só conferências - ouvi uma notícia na Antena 1 que me deixou a pensar.

Após um almoço conferência no Sheraton Lisboa Hotel & SPA, organizado pelo American Club, em Lisboa, a ministra das Finanças, Maria Luísa Albuquerque, afirmou que "a classe média acaba por ser a grande sacrificada, porque se procura sempre proteger os que têm menos recursos e porque, infelizmente, ricos temos poucos". Deve ser por isso que só encontro cerca de três a quatro Porsches por dia no trânsito - nos últimos tempos o meu passatempo favorito passou a ser contar Porsches... e Maseratis e Ferraris...

A notícia continua com a revelação de dados de um estudo, conhecido em Outubro e elaborado pelo banco Credit Suisse, que revela que no ano passado "nasceram" 10 777 novos milionários em Portugal e que o país tem um total de 75 903 milionários. Por milionário entende-se todo aquele que possua mais de um milhão de dólares, ou seja, mais de 789 mil euros.

Ora, se as contas não me falham - e nisto nunca existem certezas que o meu forte são as letras, não os números - o número de milionários em Portugal não atinge 1% da população (fica-se pelos 0,75%). Vendo por este prisma, é verdade, existem poucos milionários em Portugal, e a minha conta bancária é prova disso. E a continuarmos a aumentar o número de milionários à taxa de quase 0,2% por ano, só daqui a 500 anos é que chegaremos àquilo que a ministra pretende: um país apenas de ricos!

Mas será que isto é bom para o país? Bem, se continuarmos a enriquecer à custa do Euromilhões - uma das principais fontes de enriquecimento em Portugal nos últimos anos - o Governo vai poder esfregar as mãos de contente, já que em cada prémio superior a 5 mil euros arrecada 20% sem fazer nada. É quase como se pagássemos uma taxa pelo privilégio que o Governo nos dá de gastarmos o nosso suado dinheiro em jogos de azar na tentativa de ter mais algum dinheiro no final do mês. Não é sem razão que Portugal é dos países onde, quando existe um jackpot gordo, mais se aposta. Queremos todos fazer a vontade à ministra e enriquecer.

A sabedoria do povo diz também que ninguém enrique a trabalhar para os outros, por isso, se queremos enriquecer, sejamos empreendedores e criemos o nosso próprio negócio. Mas mesmo para criarmos o nosso próprio negócio temos de ter dinheiro, porque o empreendedorismo é muito bonito e o Governo incentiva e gosta muito dele, mas não está isento de taxas, que vão directas para os cofres públicos. Isto para não falar em todos os impostos associados à actividade e que teremos de pagar após a criação da empresa.
 
E cuidado com as exportações, que podem levar-nos à falência, principalmente na área do turismo. É que se há coisas que fazemos bem em exportar, a última exportação que fizemos foi um tiro no pé. Sim, que isto de mandar legionella para Luanda e para Lima não é o melhor dos cartões de visita para Portugal, e não podemos propriamente usar como slogan: "Venham passar férias a Portugal, aqui temos tudo: boas praias, boa comida, boas gentes, bom tempo e boa legionella. Facultamos acesso a cama e comida em hospitais de topo. E é gratuito."

Outra forma de enriquecimento é através de herança. Alguém na nossa família (ou não familiar) morre e deixa-nos determinada quantia em testamento ou, então, somos herdeiros directos por via da linha de sucessão, seja dos nossos pais, seja dos nossos avós, e herdamos mesmo sem testamento. Seria de esperar que os bens que herdamos venham para nós sem encargos, certo? Errado.

Na alteração de propriedade de bens imóveis é necessária a realização de uma nova escritura que, claro, tem custos. Levantar dinheiro de contas bancárias também obedece ao pagamento de taxas, se o fizermos recorrendo ao encerramento das mesmas. Nisto, o melhor mesmo, é ter o cartão de débito da respectiva conta e transferir o máximo de dinheiro possível para a sua conta antes de ter de dizer ao banco que o titular faleceu.
 
Entre outras formas de enriquecimento rápido podemos encontrar: casar com alguém cheio de dinheiro; traficar estupefacientes, armas, pedras preciosas, animais exóticos, madeiras exóticas, marfim ou órgãos; ser madame de acompanhantes de luxo; entrar para uma J - juventude partidária (se ainda tivermos idade para isso) - ou filiarmo-nos num qualquer partido (convém que seja um dos que alterna no poder) e fazer carreira política em Portugal.
 
Neste último caso, terá de trabalhar um bocadinho, afinal, dar graxa é um trabalho nada fácil e muitas vezes desagradável tendo em conta os odores emanados de alguns clientes, como de certo confirmarão os senhores que se dedicam a esta nobre profissão numa qualquer esquina lisboeta. E terá de estar disponível para trabalhar no exterior, que é como quem diz, fora de Portugal. Sim, porque depois de passar pelo Governo, não quererá aceitar cargos inferiores a presidente da Comissão Europeia ou do Banco Central Europeu.

E o leitor, conhece outras formas de enriquecimento? Quais? O que está a fazer para passar a pertencer aos 0,75% de portugueses milionários?

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