Confesso que este post começou por ser uma coisa e acabou por ser outra
completamente diferente. Não sei como é que aconteceu, mas a verdade é que me
entusiasmei com o assunto e, olhem, é o que temos: um grande novelo de
coincidências na nomeação da nova ministra da Administração Interna. O outro
post, fica para amanhã.
De acordo com o currículo de Anabela Rodrigues, noticiado pela imprensa, a nova ministra tem 60 anos, é professora catedrática de Direito e Processo Penal na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (FDUC), instituição de que foi, aliás, directora entre 2011 e 2013. Também já foi directora do Centro de Estudos Judiciários (CEJ) e é ex-presidente da Comissão para a Reforma do Sistema de Execução de Penas e Medidas e da Comissão de Reforma da Legislação sobre o Processo Tutelar Educativo. E, dizem os entendidos na matéria, é uma "personalidade com um enquadramento mais técnico e menos político" do que o seu antecessor.
Esta questão do menos político é que me faz alguma comichão. Na sua ficha de professora na FDUC pode ler-se que Anabela Rodrigues é a directora da instituição, cargo que deixou no ano passado, apesar de fazer ainda parte do Conselho Científico. Todos sabemos que os cargos directivos nas faculdades, ou em qualquer outra entidade - pública ou privada - não estão dissociados da política. Isto leva-me a outra questão, algo que aconteceu no início deste mês, e que parece ter passado ao lado de toda a comunicação social aquando da nomeação da nova ministra.
No início de Novembro, o Núcleo de Estudantes de Direito da Associação Académica de Coimbra organizou um debate entre Rui Tavares e Pedro Mexia cujo tema era "A esquerda, a direita, o agora: haverá espaço para as ideologias no mundo actual?". No entanto, a direcção da FDUC proibiu a iniciativa nas suas instalações com o argumento de que a faculdade "não é palco para debates ideológicos" e escudando-se atrás da desculpa de que "isso nunca foi permitido", decisão que deixou os estudantes perplexos, até porque Luís Silva, presidente do dito Núcleo em 2010/2011, por altura do primeiro mandato de António Santos Justo como director da FDUC, cargo que voltou agora a exercer, lembra ter realizado "debates sobre matérias tão ou mais politizadas e foram permitidas. Nem nunca se levantou a questão", disse ao jornal I. Vários deputados e figuras activas politicamente fizeram questão de afirmar terem participado em debates do género na FDUC.
António Santos Justo, director da FDUC, disse à agência Lusa que a faculdade "é uma casa com liberdade para cada um afirmar os seus credos religiosos e políticos, mas não pode ser um palco deste tipo de debates". O director pretende fazer da faculdade "um espaço neutro" e com "isenção partidária", apesar de esta ter, afirma o I, "uma longa história de luta política". O debate acabou por se realizar, no departamento de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, no dia 6 de Novembro.
Curiosamente, cinco dias depois da realização deste debate, rebentou o escândalo dos vistos Gold, que levou à demissão do ministro da Administação Interna, Miguel Macedo, e à consequente nomeação da ex-directora da FDUC para o substituir. E o Correio da Manhã afirmou há dois dias que "o presidente do Instituto dos Registos e do Notariado, António Figueiredo, terá dado ordens para apagar informação dos computadores horas antes da busca da PJ", depois de ter sido avisado da operação da PJ. Uma operação que andava a ser preparada muito antes da realização do dito debate proibido pela FDUC.
A sério que vão tentar convencer-me de que a proibição do debate e a nomeação da nova ministra são meras coincidências? Que não havia ninguém dentro da FDUC que sabia exactamente o que se estava a passar e quem estaria na linha de sucessão de Miguel Macedo e que foi esse o verdadeiro motivo que levou à proibição do debate? Ya, right...
Também acha que tudo isto foi coincidência? O que pensa sobre a proibição do debate na FDUC?
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