quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Cuidado com os falsos profetas da poupança

A caminho de casa ontem, a pé, fui abordada por duas senhoras que me estenderam uma espécie de "jornal" e seguiram o seu caminho. Como nos tempos de faculdade distribuí publicidade, normalmente aceito o que me dão na rua porque sei que quem está a fazer aquele trabalho, das duas uma: ou ganha à hora - e tem um número fixo de horas para trabalhar por dia, ou ganha ao dia - e quanto mais depressa se livrar do que está a distribuír melhor.

Olhei de relance para o "jornal" que me foi oferecido e vi que é de uma igreja que oferece aconselhamento gratuito além de realizar, todos os dias, reuniões com vários objectivos: curar doenças, fazer uma cura interior, fazer uma limpeza espiritual, fazer terapia do amor, ajudar em assuntos de família e casamento e ajudar a alcançar conquistas financeiras.

Neste último capítulo, em particular, para atrair as pessoas à dita reunião, diz-se: "Conheça o meio mais eficaz de superar as dificuldades financeiras, como o desemprego, as dívidas ou o insucesso no mercado de trabalho". Ora, isto deixou-me a pensar.

Em tempos de grande necessidade, as pessoas viram-se para tudo o que lhes possa parecer uma solução para os seus problemas. Não à toa que os católicos dizem que as pessoas "só se lembram de Santa Bárbara quando troveja", querendo com isto dizer que quando está tudo bem, não nos lembramos de ninguém, nem mesmo de Deus, mas quando nos vemos num beco sem saída, recorremos a tudo e a todos, e passamos a ser os mais beatos dos beatos.

Outro ditado muito popular diz que "Deus escreve certo por linhas tortas", e se deixar-nos na penúria foi a forma que Deus encontrou de nos levar até ele, porque não seguimos os mandamentos da Bíblia, seja. Mas convém não nos esquecermos de que o estado a que chegaram as nossas finanças foi obra nossa, não teve mão de Deus lá no meio. Não foi ele que chegou à loja e comprou aquele par de sapatos caro nem foi ele que foi de férias para as Bahamas. Deus deu-nos livre arbítrio e, com ele, a responsabilização pelos nossos actos.

Contudo, quando procuramos na religião ou em profetas da poupança - sejam eles o Prof. XPTO que faz umas macumbas muita boas, economistas, jornalistas económicos, self made men ou outros - a solução para os nossos problemas, temos de ter muito cuidado. Se nos virarmos para estes últimos, cabe-nos decidir se compramos ou não os seus livros, que em épocas de crise aumentam exponencialmente nas prateleiras das livrarias e dos supermercados, com fórmulas infalíveis para pouparmos ou enriquecermos.

Nem sequer vale a pena falar do Prof. XPTO que faz umas macumbas muita boas por não sei quantos euros e que nos vai trazer riqueza para o resto da vida. Não existem atalhos no que diz respeito a resolver os nossos problemas económicos. O que vamos fazer é tapar de um lado e destapar do outro, como se estivessemos a puxar um cobertor demasiado curto. Pagar as nossas dívidas, equilibrar a nossa balança financeira requer tempo e disciplina, muita disciplina para não descarrilar. É como um viciado que tem de trabalhar todos os dias para não cair na tentação.

Já no caso da religião, e de algumas igrejas em particular, cabe-nos ter muita atenção àquilo que é pregado e filtrar muito bem a informação, o que nem sempre é fácil, dado o estado de desespero das pessoas. Lembre-se que é assim que muitas seitas religiosas e muitos grupos religiosos fanáticos prosperam, aproveitando-se do desespero das pessoas e manipulando-as. Basta pensar nos jovens europeus que têm sido seduzidos pela Jihad Islâmica.

Por isso, antes de entrar de cabeça numa igreja que promete fórmulas infalíveis para o ajudar a "superar o desemprego" - será que lhe vão dar emprego (não trabalho, atenção) dentro da igreja? - ou a "superar as dívidas" - será que as vão pagar por si, sem lhe cobrar nada em troca? - informe-se bem sobre a mesma. Peça conselhos aos seus amigos, visite as suas igrejas, sejam de que género forem, observe, sinta o ambiente, e vá devagarinho. Lembre-se, a entrega é a Deus, não à igreja, esta é apenas um dos meios de chegar até ele.

Confesso que nunca fui muito católica - em todos os sentidos da palavra - mas há hábitos que tenho desde criança e sempre convivi com pessoas cristãs, sejam elas católicas apostólicas romanas ou evangélicas. Além disso, sempre fui muito curiosa em relação a tudo o que dizia respeito ao espiritual. A dada altura da minha vida, senti necessidade de explorar melhor esta faceta e comecei a frequentar uma igreja evangélica, por me identificar mais com a sua postura - optimista, de ver a vida e os ensinamentos da Bíblia pelo lado positivo - do que com a postura da igreja católica - que tem um discurso muito lúgubre, muito penalizador em relação ao que a Bíblia diz.

Há muita coisa que aprendo com as idas à minha igreja, e sinto o espírito de partilha, de integração, de entreajuda que se vive. Mas ninguém é perfeito e a igreja é feita de homens, pelo que também temos os nossos defeitos e nem tudo é um mar de rosas.

No entanto, se há coisa que aprendi e que quero transmitir com este post, e que já referi anteriormente, é que a vida é um ciclo, tão depressa estamos na mó de cima como estamos na mó de baixo. Tudo dura apenas "um pouco de tempo" e não devemos tomar "decisões permanentes em circunstâncias temporárias". Pense nisso antes de se entregar a alguém que promete resolver os seus problemas financeiros num instante.

Alguma vez se sentiu tentado a recorrer, ou recorreu mesmo, a alguma destas vias para resolver os seus problemas monetários? Qual foi o resultado? Que outros profetas da poupança evita?

Sem comentários:

Enviar um comentário