Hoje houve pessoas e actos que me surpreenderam pela positiva. Há dias assim.
Vinha eu no comboio para o trabalho de manhã e quase à chegada à última estação entra um senhor com cerca de 50/60 anos na minha carruagem que ia metendo conversa com todos os passageiros. Pensamento imediato: "Deve estar bêbado". Depois, percebo que vai contado adivinhas e contiuo a pensar "ou está bêbado ou então anda a pedir dinheiro".
O instinto mandou-me ignorar o senhor, absorta no livro que comecei agora a ler e de que falarei noutro dia. Por princípio, não dou dinheiro a "pedintes" - não gosto deste termo, é perjurativo mas não consigo pensar num melhor para explicar a quem me refiro -, se me pedem dinheiro para comer, prefiro dar comida que traga comigo ou comprar e oferecer, mas raramente dou dinheiro.
O senhor continuou o seu percurso pela carruagem a cumprimentar os passageiros e a contar adivinhas. Passou por onde eu estava sentada, cumprimentou cada uma das pessoas ali sentadas com um aperto de mão e contou uma adivinha a cada uma de nós. quando chegou ao fim da carruagem, começou o caminho inverso, agora sim, a pedir uma moeda em troca do "serviço" que nos tinha prestado, "a moeda mais pequena que tiverem", uma vez que não trabalha.
Comecei a ouvir carteiras a abrirem-se e, quando chegou ao pé de mim tinha na mão uma moeda de 20 cêntimos e, contra o que é hábito em mim, coloquei-lhe uma moeda de um euro na mão. O senhor pergunta-me se ela não me faz falta e tenta devolver-ma. Explico que não quero que ma devolva, que quero que fique com ela. Agradece, deseja tudo de bom, e estende a mão à senhora em frente a mim, que lhe dá também um euro. Repete a mesma pergunta e perante a recusa da senhora em trocar por uma moeda mais pequena, segue o seu caminho.
A atitude deste senhor deixou-me sensibilizada. Receber uma moeda e preocupar-se se aquela moeda vai fazer falta a quem a dá - faz sempre falta, pensamos nós - é de uma humildade que me fez sentir pequenina. Não, aquela moeda não me vai fazer falta. Porque nunca mais vou pensar nela, não vou lamentar o momento em que decidi dá-la a um senhor que me fez sorrir por um segundo com uma adivinha: "Chispe é com x ou com ch? Com ch. Não, é com feijão branco e com arroz", nem vou pensar se ele precisa efectivamente dela, porque precisará, com certeza, seja qual for a finalidade que lhe der.
Mas actos de bondade abundam por aí, ainda que nós poucas vezes os vejamos como tal ou dêemos por eles, sequer. Todos os dias, à hora de almoço, um dos meus colegas no trabalho onde estou neste momento lava a loiça e as caixas plásticas das marmitas dos restantes colegas. É verdade que temos máquina da loiça, mas ele faz questão de todos os dias, enquanto a comida vai sendo aquecida à vez no microondas, ir lavando as caixas dos colegas e, no final, lava a loiça. Dizem que calha a todos, mas só o vejo a ele fazer isso.
Outra particularidade que os meus colegas têm é comerem numa mesa virados para a parede, parece que estão todos de castigo. Então, na brincadeira, disse-lhes que ainda os ia conseguir convencer a almoçarem na mesa que está a meio da sala. Ontem, como era início de semana, antecipei-me e tratei de ir buscar eu os talheres e as bases para todos e coloquei-as... na mesa do meio. A custo e após muitos protestos, lá almoçaram ali todos. Garanti-lhes que só os "obrigava" a tal fardo ontem, para começarem bem a semana, e hoje não os chatearia por comerem virados para a parede.
Hoje, quando cheguei à sala para almoçar, eles tinham colocado os talheres e as bases... na mesa do meio. Fiquei extremamente sensibilizada pela atitude porque sei que eles adoram a mesa da parede e, principalmente, depois do que se tinha passado no comboio de manhã. Hoje foi um bom dia e eu fui abençoada por poder desfrutar - e aperceber-me - destes pequenos momentos de bondade. Tenham um óptimo resto de dia!
Que actos de bondade presenciou ou teve hoje? Partilhe connosco os pequenos "nadas" da vida.
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