quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

As voltas que a vida dá e as apps que a acompanham

É engraçado como a vida dá voltas e, às vezes, damos por nós de volta ao início, seja a nível amoroso, a nível profissional ou formativo. Há quase nove anos, a primeira vez que estive em Nova Iorque, estava de saída do local onde trabalhava. Hoje, de regresso a Nova Iorque, estou de saída do local onde trabalhei nos últimos oito anos e meio. 


Em ambos os casos, quando a viagem foi marcada e planeada, no horizonte não estava a saída do local de trabalho mas a vida é feita de imprevistos e temos de saber lidar com eles. A primeira coisa que me perguntaram - desta vez, porque da outra confesso que já não me lembro - foi se mantinha a viagem a Nova Iorque, tendo em conta as perspectivas futuras. A resposta foi óbvia: claro! 

Para já porque a viagem, mais do que a passeio, é de investigação e está intimamente ligada ao que quero fazer no futuro, logo, não iria abrir mão dela. Depois, porque já estando paga, iria perder o dinheiro investido, e deitar dinheiro fora é algo que me faz comichão. Vir implica gastar mais dinheiro, claro, mas é dinheiro em comida e transportes, o mesmo que gastaria em Portugal, pelo que na minha cabeça não fazia sentido nenhum não vir, ainda que compreenda que, para outras pessoas, desistir possa fazer sentido.

É claro que há sempre uma parte de divertimento e de gastos que não existiria em Lisboa. Isto de chegar na Black Friday não foi a melhor das opções, como é óbvio perdi-me na extensão dos saldos que eles fazem durante o fim-de-semana da Black Friday, mas só de pensar no que custaria, em Portugal e mesmo em saldos, o que comprei, valeu a pena. E tudo o resto vale a pena porque, quando viajamos, os nossos horizontes ampliam-se.

Mas visitar o mesmo sítio com um intervalo de mais de oito anos implica motivações, experiência e expectativas diferentes. E tecnologias também! Como raio é que uma pessoa conseguia andar de um lado para o outro sem recorrer constantemente a uma qualquer aplicação (app) no telemóvel para saber onde ir, o que ver ou qual o melhor caminho para ir de A até B?

No comboio, a caminho da cidade numa viagem que demora duas horas - qualquer coisa como ir de Coimbra a Lisboa e que centenas de pessoas fazem diariamente para ir trabalhar mas que para um português é quase impensável - dou por mim agarrada à internet para confirmar a morada do sítio onde vou ter a minha primeira reunião. 

Mas porque raio não escrevi eu a morada num papel ou no telemóvel, em vez de andar a gastar plafond de internet? - só possível porque comprei um cartão recarregável quando cá cheguei, para poder estar contactável e ligada ao mundo, algo que nunca me passou pela cabeça da primeira vez que cá estive. Estamos tão habituados a ter tudo à distância de um clique que esquecemos-nos de como se faziam as coisas antigamente, quando não existiam telemóveis topo de gama quase tão caros como um carro - só falta mesmo cozinharem para nós e levarem-nos ao colo - e a internet não tinha o impacto que tem na nossa vida hoje.

Até em Portugal, quantos de nós usam amiúde o GPS para encontrar o melhor caminho? Será que ainda se fazem mapas das estradas? O meu tem mais de dez anos e, apesar de estar bastante desactualizado, continua a ser uma ferramenta útil - aliás, foi o que usei no Verão para passear pelo Alentejo, recusei-me a andar agarrada ao GPS. 

No meio da selva ou da floresta, por melhor que seja o telemóvel, a bateria acaba - e nos smartphones acaba num abrir e fechar de olhos - ou a rede é inexistente, logo, não é o telemóvel que nos vais salvar. Acham que se o Tom Hanks tivesse um telemóvel em O Náufrago teria saído logo da ilha? Duvido! No meio da selva não é o telemóvel que nos vai ensinar a pescar ou a identificar as bagas comestíveis. Então porque é que, quando chegamos a uma cidade que não conhecemos, optamos por procurar tudo no telemóvel em vez de simplesmente nos perdermos por entre a multidão e deixarmos a cidade, e a vida, surpreenderem-nos? 

Desde que cheguei já me encontrei com pessoas que me abriram as portas de um mundo novo, que não conhecia. Pessoas que tiveram a amabilidade de partilharem comigo o seu conhecimento, a sua experiência e os seus contactos numa área que me apaixona e da qual pouco ou nada sei. Bastou para isso um email e um telefonema. Um pedido simples para uma conversa que foi prontamente aceite. Aqui a internet foi essencial para encontrar quem sabe mais do que eu sobre o assunto. 

Mas, a partir de agora, na cidade, a internet é esquecida e o mapa será a única ferramenta para me encontrar - à medida que me perco. Foi graças à ausência de internet que descobri o acender das luzes da árvore no Bryant Park quando lá estava e que me permitiu assistir ao espectáculo - bem sei que não é a árvore do Rockefeller Center mas essa só acendeu ontem, quando eu estava noutra visita, noutra cidade, e não se pode ter tudo. 

 E o leitor, também vive dependente da internet e das aplicações do telemóvel quando visita um sítio desconhecido ou prefere deixar-se ir ao sabor do vento? Quais os seus truques para conhecer uma cidade nova? Partilhe a sua experiência nos comentários.


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